Primeiro dia, tudo é silencioso, só o que escuto são os meus sussurros, vim aos berros para casa dirigindo, e meus berros pareciam ser sufocados pelo nó na minha garganta, meu corpo formiga e minha garganta trava, a fome não chega e o travesseiro parece me criticar mais que você. Chorei tudo o que não tinha chorado, tudo aquilo que tinha guardado e escondido pra mim, e de você, chorei como se o mundo fosse acabar, chorei ao ponto de pensar que meu carro tem piloto automático, pois não conseguia enxergar nada na minha frente. E cada soluço parecia um monte de agulhas me perfurando, minha cabeça virou um verdadeiro caos, pensar em viver sem você é uma tortura, olho pro celular com vontade de te ligar, de retirar tudo o que eu disse, mas recuo, não posso fazer isso.
Me bate uma nostalgia, uma saga de lembranças me corrói, sinto seu cheiro em mim, acendo um cigarro, na esperança de acalmar meus nervos, vejo que minha mão treme, meu corpo atrofia numa dor imensurável, sinto raiva de mim por ter me deixado sentir em tão pouco tempo. Me sinto aliviada por não ter mais que me esconder atrás de meias verdades, o medo de te perder se esvaiu, já perdi, agora só me resta suportar a dor, o que já fiz inúmeras vezes.
Chego em casa, meu pensamento se volta para a única pessoa capaz de me acalmar numa situação dessas, uma pessoa que não faz mais parte da minha vida, mas que me conhece com maestria, em menos de meia hora, ele consegue me arrancar sorrisos e risadas, me sinto melhor e o choro parece que foi embora de vez.
Agora em meio a uma dose cavalar de realidade, tiro sua foto do meu quarto, guardo numa caixa junto ao cartucho de bala que você esculpiu em sabão de côco, e o livrinho de uma lei engraçada, o choro volta, parece que cada parte sua em mim que eu me desfaço é como se me tirassem um dedo mindinho. Vou sentir sua falta, do seu olho torto, do seu sorriso pequeno, da sua voz, das suas mãos, e principalmente, da sua companhia. Sentirei falta dos seus beijos, do seu corpo e do seu sexo, que eu não pude ter por uma ultima noite.
Já começa a ficar tarde e eu sinto vontade de te ligar de novo, deito minha cabeça embaixo do travesseiro que abafa mais um berro profundo, como eu ia acordar amanha sem ter a possibilidade de te ligar? Como eu vou tirar você da minha rotina?
3h da manhã e eu acordo chorando, de novo, como se o ar estivesse resistindo a entrar pelo meu nariz entupido, meu corpo ainda dói, levanto correndo com uma ânsia de vomito que mal me dá tempo de chegar ao banheiro, boto pra fora tudo o que não comi no dia, volto a pensar em você, e abafo meus berros no travesseiro, é desesperador.
Rabisco umas folhas de caderno, tomo uma xícara de café,me banho, visto minha roupa e vou trabalhar. Eu sei que dói, eu deixo doer, deixa doer, ninguém morre disso.
Se ela me deixou a dor,
É minha só, não é de mais ninguém
Aos outros eu devolvo a dó
Eu tenho a minha dor
Se ela preferiu ficar sozinha,
Ou já tem um outro bem
Se ela me deixou,
A dor é minha,
A dor é de quem tem...
É meu troféu, é o que restou
É o que me aquece sem me dar calor
Se eu não tenho o meu amor,
Eu tenho a minha dor
Beijos e Boa Leitura
Dizem que é da dor qu tiramos nossos melhores textos, acabo por concordar.Entre tantos esse se distaca pela verdade que passa e que cada corajoso que já se permitiu a apaixonar conhece.Doi? dói.
Mas passa.
Ou então vem alguém e cura :)
Amo seus textos.