Sobre uma saudade

terça-feira, 31 de maio de 2011




Arrume sua casa, mas não se preocupe com seu quarto, esse eu quero bagunçado.
Prepare as cervejas, varra a rua augusta, limpe o cinzeiro, que eu tô chegando.
Quando eu chegar, dispense as palavras, meu corpo é seu verso e minha alma suas rimas.
Porque nos completamos na essência de nossas estrofes.
Meu desejo se perde no meio de seus poemas.
Meu amor se confunde nas letras de suas musicas.
E eu quero estar nos seus lençóis amassados, rabiscando palavras enquanto você me troca pelo seu violão, ou pelo seu futebol.
Porque saudade de algo que nunca aconteceu é um tormento, memórias forjadas são ludibriantes.
Arrume sua casa, e não se preocupe com seu quarto, meu amor é sujo e deselegante.
Indecente, entorpecente. Eu to chegando.




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Beijos e boa leitura.

Carta ao Desamor VI

terça-feira, 17 de maio de 2011


Não te culpo pelos meus erros, passei um bom tempo sofrendo conseqüências por deslizes que não foram meus.
Também não te culpo pelos meus devaneios, pelas minhas conversas insanas e meu comportamento pueril.
Não te culpo pela minha incoerência, pelas minhas manias, pelas minhas esperanças e utopias.
Também não te culpo pelas minhas lagrimas, pelas minhas crises nem pelas minhas dores.
Não te culpo pelos meus planos, meus enganos, meu jeito maluco de tratá-lo.
Pela primeira vez eu sinto que pago por erros meramente meus, por querer demais, por amar, por tratá-lo como se meu sentimento não existisse.
Mas você tem culpa, a culpa é sua de ser tão lindo e despertar meu desejo de longe.
A culpa é sua por ter se mostrado doce quando o mundo te fazia amargo, por ter me olhado nos olhos e me puxado pra dentro de suas paredes, por ter construído mais paredes pra ainda assim eu ficar de fora.
A culpa é sua de ter a voz e o abraço que me acalmam sem motivo aparente, por você ter se tornado uma parte de mim, minha parte favorita.
Inteira e completa culpa sua por fazer meu corpo ferver de uma maneira que é só sua, por despertar em mim minhas fantasias mais sujas, por bagunças meus instintos, fazer de meus sentidos um turbilhão.
A culpa é sua por me fazer ver perfeição em cada imperfeição sua, por ter me permitido cair de uma altura tão grande.
A culpa é sua por me compartilhar segredos, me contar seus medos e me fazer brinquedo, se enroscar no meu corpo sem pudor nenhum, por me mostrar uma intimidade que eu jamais vivi com ninguém.
Mas a culpa é minha por não ter noção de tempo, por exagerar sozinha, e pensar que eu era mais que um simples qualquer.
A culpa é só minha, por não perceber seus atos, ignorar seus fatos, por querer ser sua, talvez por eu ser uma louca dissimulada, talvez por amor, talvez por nada.
A culpa é minha, por não saber meu lugar lá no cantinho, não saber te poupar dos carinhos, não brincar com você como os outros.
A culpa é minha por te querer por perto pra sempre, te deitar no meu ombro e te confortar de todos os tropeços da vida, essa culpa ninguém me tira. Eu te quero comigo pra sempre, sem fantasias, sem mascaras, sem paixão. A culpa é minha por ir embora, eu preciso ir embora.
A paixão, meu bem, é possessiva, o amor é incondicional e ele venceu. Então eu te deixo com as lembranças do pouco que fomos, demais pra mim.
E quando você estiver aflito, abra esta carta e lembre-se que um dia alguém te amou tanto, gratuitamente, ao ponto de partir para poder caminhar com você no futuro.
Sem delongas, sem beijo de despedida, amigos.

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E Guilherme Arantes vai me ajudar... rsrs


Beijos e Boa leitura.

Capítulo Um

quarta-feira, 4 de maio de 2011


CENA PRIMEIRA

Era um dia comum, talvez para todas as outras pessoas na roda de amigos, o mais tímido de todos arranhava um blues no violão faltando uma corda, os outros papeavam aleatoriamente quase que ignorando as batidas do violão quebrado, os copos estavam sempre cheios e sempre vazios. O grupo de amigos se divertia naquela sexta tediosa com cheiro de chuva, alguns petiscavam pedaços do churrasco feito na brasa úmida, outros contavam historias, uns se conheciam há décadas, outros há alguns minutos, mas todos naquela roda sorriam como se a vida existisse sem tropeços. Todos menos ela. Seu corpo estava ali presente, ela vestia seu sorriso de normalidade, mas sua cabeça estava longe, já não bastasse ser dona da mente mais inquieta do universo, agora ela rodava a mil, tropeçando em milhões de micro pensamentos jogados num oceano de duvidas e insegurança, sim, essa era sua cabeça naquela noite. Enquanto tentava se concentrar nas futilidades faladas pelos amigos, seu coração apertava de doer todas as vezes que seu pensamento passava por ele. Mas ela estava ali por isso, para evitar que seu pensamento passasse por ele em intervalos de tempo. Ela não queria mais pensar nele, e isso a consumia deveras. Embora consciente de não possuir forças para deixá-lo de lado, ela construía pouco a pouco sua saída daquela prisão, que ela mesma construiu.
Ela olhou pra ele, mas não o viu, um garoto qualquer, não era bonito nos padrões sociais, o sotaque diferente chamou atenção, a piada genial solta em segundos com maestria, ela o notou. Os olhos pequenos e puxadinhos, o nariz grande, o sorriso tímido. Em poucos minutos de conversa ela estava impressionada com tamanha criatividade, maturidade e tranqüilidade daquele garoto.
O amigo mais sábio que prestava atenção na conversa, parou o blues frustrado, largou o violão que faltava uma corda e lhe disse “realmente existem pessoas interessantes no mundo, cabe a você dar-lhes uma chance”. Ela ouviu, não por ele ser sábio, nem porque o blues acalmava seus ouvidos, mas enquanto aquele garoto falava, seu pensamento se concentrava ali e somente ali. A sensação de desespero amenizou, a conversa durou pouco. E ela o notou.


CENA SEGUNDA


“Pessoas interessantes não se encontra em qualquer esquina”, ela falou enquanto comentavam do filme aterrorizante que assistiram enroscados no cinema, o garoto sentando no banco do passageiro sorriu, segurou sua mão e repetiu a mesma frase. Tão novo, tão cavalheiro, tão diferente daqueles tantos comuns patéticos que ela estava acostumada, fascinante. Voltou para casa sozinha, no meio do caminho sentou pra tomar uma cerveja com seu amigo mais sábio, a cerveja tinha um gosto de alivio, e ela prestou atenção. “Pessoas grandes, são reconhecidas de imediato, são notadas de longe, pessoas pequenas e vazias são aquelas que temos que nos esforçar para procurar qualidades”, ele disse, como quem já soubesse tudo que ia acontecer. Ela volta para casa, a cabeça tranqüila, o sabor da liberdade que ela tanto ama. A deliciosa sensação de olhar pra trás e rir de si mesma.



"I'm surprised that you've never been told before, that you're lovely."

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Beijos e boa leitura

[espero que esse texto passe seu tempo enquanto vc espera o ônibus]
 
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