Embora, por ora, outrora.

domingo, 12 de setembro de 2010


Não entendo mais nem os tragos do meu cigarro, nem os goles das minhas bebidas, nem o gosto das bocas. Hoje sou inerte, desacreditada das valsas, dos tangos, esparramada em lençóis solitários, amanheço em transe, ludibriada pelas vagas memórias de meus sonhos, são eles que me mantém viva, nos meus sonhos meus sorrisos não são pequenos, minhas mãos não são falsas e meu corpo ferve.

Embora não os entenda, meus tragos são passivos, minha mente se desdobra em mil pedaços, meu coração que fora tão leviano um dia, agora repousa, esse coração que nunca pertenceu a ninguém e sempre foi seu, agora se satisfaz de memórias, se embriaga em um oceano nostálgico e sem graça. Numa eterna batalha com minha cabeça, que não admite pensar em você.

Entre retratos, retalhos sem retoques e devaneios, por um instante me perco em seus cabelos, longos, sua barba mal feita, sua pele estranhamente branca e seus olhos, meus olhos, e tudo aquilo que você foi um dia. Hoje seu cabelo é curto, sua barba não existe e sua pele tem um tom meio doente. Hoje suas rimas não cabem nos meus versos, seu cheiro me enjoa e seu cigarro me incomoda, minha cabeça cansou de pensar, meu coração agonizou e te deixou.

E agora eu não entendo os tragos do meu cigarro, não entendo os motivos dos meus porres, meu futuro virou loteria, meus planos evaporaram, e eu te amo da forma mais covarde que existe.
Ainda me resta os versos sem rimas, minha prosa sem sentido, minha cabeça caótica, meus falsos romances, meus livros e meu cigarro. Me resta o Chico, o Sérgio, o Ivan, o Vinícius, o Elvis, o Simonal, e todos os meus outros amores rotos e voláteis,  como haveria de ser.

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Mesmo que os cantores sejam falsos como eu
Serão bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo miseráveis os poetas
Os seus versos serão bons
Mesmo porque as notas eram surdas
Quando um deus sonso e ladrão
Fez das tripas a primeira lira
Que animou todos os sons
E daí nasceram as baladas
E os arroubos de bandidos como eu
Cantando assim:
Você nasceu para mim
Você nasceu para mim
Mesmo que você feche os ouvidos
E as janelas do vestido
Minha musa vai cair em tentação
Mesmo porque estou falando grego
Com sua imaginação
Mesmo que você fuja de mim
Por labirintos e alçapões
Saiba que os poetas como os cegos
Podem ver na escuridão
E eis que, menos sábios do que antes
Os seus lábios ofegantes
Hão de se entregar assim:
Me leve até o fim
Me leve até o fim
Mesmo que os romances sejam falsos como o nosso
São bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo sendo errados os amantes
Seus amores serão bons
[Choro Bandido -   Chico Buarque]


Beijos e Boa leitura.

4 Pessoas que não levaram choque ao comentar:

  1. Marcelo Mayer disse...:

    porque todo poeta precisou mentir um pouco pra agradar

  1. Debora disse...:

    "Numa eterna batalha com minha cabeça, que não admite pensar em você." ~ A cabeça não admite, mas o coração é rebelde, moça...

  1. Unknown disse...:

    Super me identifiquei com 90% dos seus pensamentos [ou seriam sentimentos?], mas às vezes acho que seria melhor que isso não acontecesse =/

  1. Entre retratos, retalhos sem retoques e devaneios...


    Ameiiiiiiiiiiiiiii

 
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