Ela escreve poemas, como se a utopia da vida não bastasse, se esconde atrás dos versos, se aconchega entre suas rimas mal feitas. Gera conflitos e vive plenitude.
Ela escreve poemas, e acredita que todo bom poeta bebe da fonte da frustração e medo. Todo bom poeta tem vícios químicos, de amores, de linguagem. Que já não bastasse o sofrimento natural, o bom poeta acha pouco e passa sua dor para o papel, ludibriado e maquiado por bons adjetivos, uma sintaxe coerente e rimas idiotas. O bom poeta faz do leitor seu brinquedo.
Ela escreve poemas, pois seu reflexo no espelho zomba, ri, aponta e critica. Ela, que mudou seus conceitos, guardou seu corpo para o amor e se jogou nos braços daquele que um dia lhe tratou com desdém. Ela não sabe seguir regras, nem mesmo as que ela mesmo impõe.
Ela escreve poemas, porque a prosa lhe parece cortante, direta e sincera, e viver com suas próprias verdades é um tormento. Ela não tem mais forças para rir das crônicas e seus versos são falsos e ludibriantes, suas linhas com rimas que só ela entende são o que faz ela acordar todo dia com um sorriso roto na cara.
Ela escreve poemas, mas não sabe mais lidar com palavras, seus sentimentos agora apavoram e ela foge deles como o diabo da cruz. A vida a fez desacreditar de tudo, engana seus homens com o seu amor volátil, seus beijos dóceis e seu corpo carente.
Ela escreve poemas, para que seus dias sejam menos enfadonhos e sua cabeça se perca entre linhas. Escreve poemas para curar sua loucura, sua insônia e sua busca por algum sentido que a faça continuar caminhando.
Ela escreve poemas e neles acredita, se apega a tais ilusões pois são elas sua realidade, escreve poemas e através deles seus amores retornam, sua alma preenche, seu corpo sacia, seu sono descansa e seus pés não rastejam.
Ela escreve poemas, porque no caos da sua mente suas frases são as únicas coisas bem organizadas e sensatas. Ela cansou do mundo, das pessoas, das danças e das mentiras. Hoje ela vive plena, segura, amante, amada, supérflua e intensa e permanecerá assim até quando cansar de escrever poemas.
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Beijos e Boa Leitura