Sobre o ato falho

domingo, 24 de abril de 2011



Ela que por tantos anos resistiu, lutou contra esse sentimento falho que sentia por ele, ignorou todas as formas de aproximação que ele tentasse, enfraqueceu. Ela cedeu ao seu encontro, com toda a certeza que isso não a afetaria em nada, com plena convicção que aquele cheiro perfeito e aquela voz esquisita não mais trairiam seus sentidos.
E ela falhou, no primeiro segundo em que ele parou em sua frente, ela falhou, por todos esses anos ela se manteve forte, e fracassou. O sorriso estonteante que se formou na boca dele, fez suas pernas desmontarem, o abraço, o corpo, o cheiro, aquele cheiro, aquele corpo, aquele abraço. Ela falhou.
Falhou não apenas por não conseguir proferir metade das palavras do discurso muito bem ensaiado por horas, nem por não ser capaz de olhá-lo nos olhos sem entrar em prantos. Ela falhou completamente, com corpo e alma, traiu a si mesma, quebrou suas próprias regras e se entregou.
O cheiro de cigarro misturado com o perfume que ele não mudou até hoje se transformaram em um turbilhão nostálgico de sentimentos, o beijo que ela lutou tanto pra resistir arrepiava seu corpo de cima abaixo, o corpo não era mais tão familiar, mas ela ainda sabia passear nele com maestria. Os cabelos dele que eram quase grandes, agora são curtos, mas ela não pensava mais nisso. Suas lembranças foram invadidas por uma dose cavalar de realidade, e ele estava ali. Como se seus corpos nunca estivessem se separado, nem por um minuto. Como se essa lacuna de anos nunca tivesse existido. Como se o tempo voltasse, como se ele falasse verdades.
Ela não engoliu suas palavras, não aceitou suas desculpas, nem acreditou em suas meias mentiras. Ela não é mais a menina que ele conheceu, e ele não é mais o homem por quem ela se apaixonou. Ela não sabe explicar o que aconteceu com seus propósitos, onde foi parar sua força, e porque aquela sensação nostálgica e a segurança que ele passava, agora pareciam fazer sentido. Ela falhou.
Ela chorou, como há anos não fazia, e ele sugou todos os seus segredos mais profundos. Como se com um abraço ele pudesse protegê-la de tudo o que fizesse mal. Segurança, ele sabia que essa era a chave para segura-la. Deixá-la insegura era como brincar com fogo. E em meio as suas muitas juras de amor eterno, promessas mal ditas e lençóis bagunçados, ela se sentiu segura. Ela falhou.
Ela falhou da forma mais visceral, falhou como nunca havia falhado na vida, talvez pela herança que tamanha intimidade tenha deixado para os dois. Talvez porque um sentimento tão intenso não deva ser deixado de lado, ou talvez por ter sido apenas uma falha que ela não esteja acostumada. Eles ainda completavam frases um do outro, ainda brincavam e zombavam de suas próprias desgraças. Ainda se encaixavam em seus carinhos.
Ela agora teria toda a segurança que lhe falta nos seus outros homens. Agora ela teria todo o amor do mundo, do homem que ela amou durante anos, e ela fez planos em minutos, tudo fazia sentido, e ela voltaria atrás, e caminharia ao lado dele, e tudo seria diferente, tudo seria pleno, gostoso, verdadeiro. E ela enxergou seu futuro, e desenhou seu caminho. Deu um beijo de despedida, com todo o seu coração. Entrou em casa e, como um lapso brutal de realidade, resolveu desistir de tudo, mesmo. Mandar o resto do mundo pra o quinto dos infernos. Sem o amor seguro, sem o falso amor que a deixa insegura. E assim ela fechou sua noite, falhando novamente.

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Beijos e boa leitura.

2 Pessoas que não levaram choque ao comentar:

  1. Adoreiiiiiiii, não sei pq, mais sempre me identifico com algumas partes dos seus textos... kkkkk
    Com esse não foi diferente. Muito bom, muito mesmo Cela.
    :*

  1. Caceres disse...:

    Tropeços. Gosto de personagens que tropeçam. Aqueles que anda em linha podem ser tão desinteressantes...

 
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